As bolsas de valores dos Estados Unidos enfrentaram dois dias consecutivos de quedas históricas, acumulando uma perda superior a US$ 7 trilhões — o equivalente a mais de R$ 40,6 trilhões na cotação atual. Trata-se do maior tombo desde março de 2020, quando a pandemia da Covid-19 paralisou a economia global.
A magnitude da perda é tão expressiva que supera o Produto Interno Bruto (PIB) anual do Brasil, estimado atualmente em US$ 2,2 trilhões. Em outras palavras, em apenas dois dias, os mercados acionários americanos perderam mais de três vezes tudo o que o Brasil produz em um ano.
O pânico no mercado foi provocado por uma onda de vendas que afetou desde grandes empresas de tecnologia até ações de setores tradicionais, como energia e bancos. Os principais índices de Wall Street — Dow Jones, Nasdaq e S&P 500 — recuaram de forma sincronizada, refletindo uma aversão generalizada ao risco.
O índice Dow Jones perdeu mais de 1.800 pontos no acumulado de dois dias, enquanto o S&P 500 caiu 6,5% e o Nasdaq recuou 7,2%. Foi a pior semana para o mercado desde os primeiros dias da pandemia.
Segundo analistas, a principal causa da fuga de capitais está relacionada ao aumento das tensões fiscais, com investidores temendo novas medidas tributárias do governo do presidente Donald Trump. Apesar de estar fora da presidência, Trump tem pressionado parlamentares aliados a manterem políticas de aumento de tarifas e tributos em setores estratégicos.
Essa pressão criou uma instabilidade no Congresso americano, gerando incertezas sobre o ambiente regulatório e tributário nos próximos meses. Investidores, diante desse cenário, optaram por reduzir drasticamente suas exposições em renda variável.
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O efeito dominó se espalhou também para os mercados europeus e asiáticos. Bolsas em Londres, Paris e Frankfurt também fecharam em queda, refletindo o temor global de uma nova crise fiscal e econômica nos Estados Unidos, que continuam sendo a maior economia do mundo.
A correlação dos mercados globais fez com que o Ibovespa também fosse impactado. A bolsa brasileira recuou 2,9% no mesmo período, com investidores estrangeiros retirando recursos do país em busca de ativos mais seguros, como títulos do Tesouro norte-americano.
A moeda americana voltou a subir e ultrapassou R$ 5,40, impactando diretamente o custo das importações e aumentando o risco de inflação no Brasil.
Além das incertezas fiscais, analistas também apontam para a deterioração das expectativas econômicas nos Estados Unidos. Dados recentes mostram desaceleração no consumo e na produção industrial, o que acendeu alertas sobre uma possível recessão técnica.
Combinado a isso, os juros elevados do Federal Reserve continuam pressionando o mercado de crédito e as expectativas de crescimento. Investidores avaliam que o atual nível de juros pode se manter alto por mais tempo do que o previsto, o que afeta o apetite por risco.
As empresas de tecnologia foram as mais penalizadas na bolsa. As ações da Apple caíram 5%, Microsoft perdeu 4,3%, e a Tesla recuou 6,7% nos dois dias. Até mesmo gigantes como Amazon e Alphabet (Google) sofreram perdas superiores a 3%.
O mercado de criptomoedas também foi afetado. O Bitcoin perdeu mais de 10% do seu valor no mesmo período, voltando a ser negociado abaixo de US$ 60 mil. Ethereum e outras altcoins seguiram a mesma tendência.
Os setores mais defensivos, como saúde e serviços públicos, tiveram queda menor, mas ainda assim não escaparam do movimento negativo do mercado.
Grandes fundos de investimento começaram a rebalancear suas carteiras, optando por ativos de menor risco, como ouro e títulos indexados à inflação.
Os bancos centrais ao redor do mundo estão monitorando a situação com atenção. O Federal Reserve não se pronunciou oficialmente até agora, mas fontes internas afirmam que a volatilidade está sendo acompanhada de perto.
O secretário do Tesouro dos Estados Unidos declarou em coletiva que “não há motivos para pânico”, mas o mercado não reagiu positivamente à fala. As incertezas continuam alimentando a fuga de capitais.
No Brasil, o ministro da Fazenda, Fernando Haddad, afirmou que o país está atento aos desdobramentos externos e que a equipe econômica está preparada para eventuais ajustes.
O presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto, reforçou que o Brasil possui reservas robustas e que o sistema financeiro nacional está sólido para enfrentar choques externos.
Apesar das garantias, o mercado local segue pressionado. A curva futura de juros voltou a subir, precificando maior risco no cenário global.
Especialistas alertam que o momento é de cautela. “Não é hora de tomar decisões impulsivas. É importante avaliar o perfil de risco e diversificar os investimentos”, disse Felipe Lacerda, estrategista-chefe da G7 Investimentos.
A volatilidade pode continuar nas próximas semanas, especialmente se os sinais de desaceleração nos Estados Unidos se intensificarem. O mercado já especula que o Federal Reserve poderá intervir com alguma medida de estímulo.
No entanto, qualquer estímulo fiscal ou monetário precisa ser bem calibrado, sob risco de aumentar ainda mais a inflação nos Estados Unidos — que segue acima da meta.
Empresas que dependem fortemente da economia americana já começaram a revisar suas projeções de lucro para o segundo trimestre. O setor automotivo e de bens de consumo devem ser os mais impactados.
A confiança do consumidor norte-americano caiu para o menor nível em 18 meses, o que indica menor propensão ao consumo e ao investimento.
O mercado também teme que novos conflitos geopolíticos ou embargos comerciais possam piorar ainda mais o cenário. China e Estados Unidos continuam em atrito por questões tecnológicas e militares.
Mesmo com todo o pessimismo, alguns analistas enxergam oportunidades. “Historicamente, grandes quedas são seguidas por fortes recuperações. Investidores pacientes podem encontrar boas barganhas agora”, afirma Carolina Sousa, da BR Capital.
Ainda assim, a recomendação majoritária continua sendo de prudência. O cenário global está em mutação rápida, e novas informações podem mudar o rumo dos mercados de forma inesperada.
Para os investidores brasileiros, a diversificação continua sendo a melhor estratégia para proteger o patrimônio diante de choques externos.
A próxima semana será crucial para entender se o mercado encontrará algum alívio ou se a onda de vendas continuará dominando os pregões.