Rapidus avança na corrida dos semicondutores e prepara produção experimental de chips em 2nm ainda este mês

A empresa japonesa Rapidus, com forte apoio do governo do Japão, está prestes a realizar um feito que poucos países no mundo conseguiram: produzir semicondutores avançados em escala experimental no processo de 2 nanômetros (nm). Trata-se de um marco histórico não apenas para a empresa, mas também para a indústria de tecnologia japonesa, que busca retomar o protagonismo global no setor.

A produção em 2nm é atualmente o ápice da miniaturização e eficiência na indústria de chips. Apenas gigantes como TSMC (Taiwan), Samsung (Coreia do Sul) e Intel (EUA) dominam essa tecnologia, o que torna a iniciativa da Rapidus extremamente relevante em um cenário geopolítico e econômico cada vez mais competitivo.

De acordo com executivos da empresa, a produção experimental deve começar ainda neste mês, com os primeiros wafers completos sendo entregues até julho. Essa etapa é essencial para validar a viabilidade da linha de produção e testar o rendimento dos chips fabricados nesse processo ultrafino.

A iniciativa faz parte de uma estratégia nacional do Japão para garantir segurança tecnológica e soberania em setores estratégicos como inteligência artificial (IA), computação de alto desempenho e sistemas avançados de defesa.

Com a rápida evolução de tecnologias baseadas em IA, como redes neurais, grandes modelos de linguagem (LLMs) e aplicações industriais inteligentes, a demanda por chips poderosos e eficientes é maior do que nunca.

Chips fabricados em 2nm prometem entregar desempenho superior com menor consumo energético, algo essencial para manter a escalabilidade de centros de dados e dispositivos móveis de próxima geração.

A Rapidus está trabalhando em colaboração com o gigante tecnológico norte-americano IBM, que ajudou a desenvolver a arquitetura dos chips em 2nm. A parceria inclui transferência de conhecimento, patentes e orientação técnica em design de semicondutores.

Além disso, o governo japonês investiu mais de US$ 2 bilhões para financiar a criação da Rapidus e desenvolver infraestrutura adequada para a fabricação em larga escala desses chips de ponta.

A planta de produção experimental está localizada em Chitose, na ilha de Hokkaido. A localização foi escolhida estrategicamente para descentralizar a indústria de tecnologia e fomentar novos polos de inovação.

A estrutura conta com ambientes limpos de classe internacional, controle rigoroso de partículas e um sistema de automação completo, alinhado aos padrões globais da indústria de semicondutores.

Mesmo com a produção experimental prestes a começar, a expectativa é de que a produção comercial em massa dos chips de 2nm só comece entre 2027 e 2028, após validações técnicas, ajustes industriais e garantias de rendimento.

O avanço da Rapidus simboliza uma nova fase para o Japão, que décadas atrás foi líder global em eletrônicos e semicondutores, mas perdeu espaço para a Coreia do Sul, Taiwan e China.

Agora, com o renascimento tecnológico e o foco em IA, o Japão quer se posicionar como uma potência de inovação novamente, com chips desenvolvidos localmente para atender à demanda global e interna.

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Com a guerra comercial entre EUA e China em andamento, países como Japão e Coreia do Sul se tornaram aliados estratégicos dos EUA na produção de chips avançados. Isso fortalece a Rapidus geopoliticamente.

A empresa japonesa quer fornecer chips não apenas para empresas locais, mas também para parceiros norte-americanos e europeus, diversificando a base de clientes e reduzindo a dependência de outras regiões.

Especialistas em tecnologia acreditam que a entrada do Japão nessa corrida vai impulsionar mais investimentos privados em startups de IA, empresas de robótica, e laboratórios de pesquisa em aprendizado de máquina.

Além disso, espera-se que as universidades japonesas criem novas cadeiras voltadas à engenharia de semicondutores e IA embarcada, formando talentos que serão absorvidos pelo novo ecossistema de inovação.

A Rapidus também busca estabelecer cadeias de suprimento seguras e sustentáveis, evitando os gargalos enfrentados por fabricantes durante a pandemia, quando faltaram componentes no mercado global.

Um dos maiores diferenciais da Rapidus está na proximidade entre pesquisa, prototipagem e produção, permitindo um ciclo de desenvolvimento mais ágil e eficiente.

Isso será essencial para competir com empresas como a TSMC, que mantém sua liderança global com investimentos bilionários e uma base de clientes consolidada como Apple, AMD e Nvidia.

O modelo da Rapidus é mais enxuto e voltado à inovação disruptiva, o que pode atrair empresas menores ou de médio porte que queiram explorar soluções personalizadas em IA.

Outro destaque da empresa está no uso de tecnologias verdes para a produção de chips, com foco em redução de carbono, eficiência energética e reuso de materiais na cadeia fabril.

Os chips de 2nm também serão vitais para carros autônomos, sensores inteligentes, equipamentos médicos e dispositivos conectados (IoT), todos setores em que o Japão já tem presença.

Com isso, a Rapidus não só entra na elite da fabricação de semicondutores, como também cria sinergias com a indústria nacional de automóveis, robótica e automação industrial.

A expectativa é que a empresa produza inicialmente entre 100 e 200 wafers por mês durante a fase experimental, número que deve aumentar gradativamente à medida que os testes forem aprovados.

A cada wafer validado, os engenheiros da Rapidus poderão aprimorar os parâmetros de litografia, deposição de camadas e gravação, buscando o melhor rendimento possível.

Esse processo envolve centenas de variáveis físicas e químicas, além de simulações digitais que reduzem falhas e aceleram a produção.

O sucesso da Rapidus pode gerar efeitos positivos para outras empresas japonesas como Sony, Toyota e SoftBank, que dependem de chips avançados para suas soluções em IA, sensores e conectividade 5G.

A movimentação também inspira outras nações a buscar mais independência tecnológica, especialmente em tempos de tensões geopolíticas e riscos de sanções internacionais.

Embora o desafio de competir com a TSMC e a Samsung seja imenso, o Japão aposta em consistência, qualidade e inovação como pilares para sua reentrada no cenário global de semicondutores.

A entrada da Rapidus em 2nm não é só uma questão de negócios, mas de soberania e futuro tecnológico para o país, envolvendo ciência, educação e segurança nacional.

Com isso, o Japão se junta ao clube restrito dos que possuem domínio total da litografia de última geração, o que também o posiciona melhor no desenvolvimento de IA generativa.

Especialistas apontam que IA só pode evoluir com chips mais potentes e eficientes, tornando os semicondutores em 2nm uma peça-chave para o crescimento futuro do setor.

A Rapidus já discute acordos com universidades e centros de pesquisa japoneses para criar parcerias em design de circuitos e desenvolvimento de arquiteturas personalizadas.

A resposta do mercado foi positiva, com analistas prevendo que o projeto pode atrair até US$ 10 bilhões em investimentos adicionais ao longo dos próximos anos.

As ações de empresas ligadas à cadeia de suprimento da Rapidus já mostram sinais de valorização, principalmente fornecedores de equipamentos e materiais especializados.

O Japão, com essa iniciativa, mostra que está disposto a recuperar sua posição como potência tecnológica, sem depender exclusivamente de fornecedores estrangeiros.

A expectativa é que o sucesso da Rapidus também pressione a China a acelerar seus próprios projetos em 3nm e 2nm, aumentando ainda mais a competição global.

Por fim, a chegada do Japão à era dos chips de 2nm simboliza uma nova etapa tecnológica global — e marca o início de uma nova corrida por poder, inovação e inteligência artificial.

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