
Wall Street está em alerta máximo. Segundo o The New York Times, banqueiros, executivos e traders passaram o fim de semana com “pouco descanso”, temendo os impactos do novo tarifaço anunciado pelo governo dos Estados Unidos contra a China.
As medidas impostas por Washington, que elevam tarifas de importação sobre produtos chineses, reacenderam na memória de muitos investidores os traumas da crise financeira global de 2008. A sensação de déjà vu foi compartilhada por diversos profissionais do mercado.
“Definitivamente parece semelhante a 2008”, afirmou Ran Zhou, gerente de fundos de hedge da Electron Capital, com sede em Nova York. Zhou cancelou seus planos pessoais para o fim de semana e optou por vestir uma camisa social para monitorar as movimentações de Pequim diretamente de seu escritório.
O clima de tensão cresceu ainda mais após autoridades chinesas sinalizarem que podem responder à altura, reacendendo os temores de uma guerra comercial mais agressiva entre as duas maiores economias do mundo.
Para muitos gestores, a possibilidade de uma retaliação da China cria incertezas em cadeia que podem afetar desde o setor de tecnologia até o agronegócio global.
Banqueiros relataram ao The New York Times que seus telefones não pararam de tocar, com clientes pedindo orientações urgentes e buscando proteção para seus portfólios.
Traders experientes disseram que os padrões de comportamento do mercado lembram fortemente os dias anteriores ao colapso do Lehman Brothers, há quase duas décadas.
A repentina escalada nas tensões comerciais fez com que analistas de risco reavaliassem projeções de curto e médio prazo para os mercados acionários e cambiais.
Veja também
Vários fundos de investimento suspenderam operações programadas para esta semana, optando por aguardar os desdobramentos das novas tarifas e a possível resposta chinesa.
“A situação ainda é muito fluida”, explicou uma executiva de um grande banco de investimento, sob condição de anonimato. “Há uma necessidade urgente de avaliar cenários e evitar decisões precipitadas.”
O índice Dow Jones teve uma das piores semanas do ano, e futuros apontam para mais perdas nos próximos dias.
Além das bolsas, o mercado de commodities também foi impactado. O minério de ferro e a soja, dois produtos com forte presença nas exportações chinesas, já demonstram volatilidade acentuada.
As moedas emergentes também estão sofrendo, com desvalorizações acentuadas diante do dólar, que voltou a ser visto como porto seguro pelos investidores.
Hedge funds estão revendo posições em ativos considerados de risco e reforçando posições em ouro e títulos do Tesouro americano.
O clima nos bastidores de Wall Street é de total vigilância. Muitos profissionais passaram o fim de semana conectados a painéis de análise e atualizações de inteligência geopolítica.
Empresas de consultoria financeira aumentaram a frequência de reuniões com seus clientes institucionais e passaram a emitir alertas com orientações táticas para o curto prazo.
No mercado de tecnologia, o impacto também já é perceptível. As ações de empresas com grande exposição ao mercado chinês, como Apple e Nvidia, foram duramente atingidas.
Startups que dependem de componentes fabricados na China agora enfrentam a perspectiva de custos maiores e atrasos logísticos, caso a retaliação chinesa inclua restrições à exportação de materiais estratégicos.
O temor generalizado é que um ciclo de sanções e contra-sanções afunde as expectativas de crescimento econômico global para 2025.
Economistas de grandes bancos já começam a revisar suas projeções para o PIB dos Estados Unidos e da China, prevendo desaceleração nos dois países.
O Federal Reserve, que recentemente sinalizava possíveis cortes nas taxas de juros, agora pode adotar uma postura mais cautelosa, dada a nova instabilidade nos mercados.
Alguns gestores destacam que, embora o cenário não seja idêntico ao de 2008, o medo pode provocar reações exageradas e gerar pânico entre investidores institucionais e individuais.
O grande diferencial em 2025 é a presença de tecnologias de negociação automatizada, que podem amplificar movimentos de venda em massa.
A Comissão de Valores Mobiliários dos EUA (SEC) já monitora o comportamento do mercado e pode adotar medidas para conter oscilações extremas, como interrupções temporárias em negociações.
A tensão também atinge o mercado de dívida corporativa, onde os spreads de risco aumentaram com força nos últimos dias.
Empresas em processo de captação de recursos podem enfrentar dificuldades para concluir ofertas de debêntures e bonds internacionais.
Em meio a esse cenário, grandes bancos estão reforçando equipes de análise e redobrando os esforços para manter a confiança de seus clientes.
A percepção de risco elevou a busca por seguros de crédito e derivativos de proteção contra quedas, o que, por sua vez, aumentou o custo desses instrumentos no mercado secundário.
Embora ainda não se fale abertamente em uma crise sistêmica, o alerta está ligado e a palavra de ordem em Wall Street é cautela.
Ran Zhou, como muitos outros profissionais da praça financeira de Nova York, resume o momento com poucas palavras: “Temos que estar prontos para tudo. É o tipo de fim de semana que decide o futuro do trimestre.”
Com o mercado prestes a abrir após um fim de semana tão agitado, os olhos do mundo se voltam para Wall Street e para a próxima jogada dos tomadores de decisão.