China revoluciona energia nuclear com tecnologia abandonada pelos EUA

Pesquisadores chineses conseguem reabastecer reator de tório sem desligamento e avançam na corrida por uma matriz energética limpa e neutra em carbono

A China acaba de dar um passo crucial rumo à consolidação de uma matriz energética limpa. Cientistas chineses conseguiram, pela primeira vez, reabastecer um reator nuclear experimental sem a necessidade de desligá-lo, o que representa um feito inédito no mundo da energia nuclear.

O avanço foi possível graças a uma tecnologia baseada em tório, um elemento químico alternativo ao urânio, considerado mais seguro e abundante. A experiência bem-sucedida abre caminho para um novo tipo de geração de energia nuclear mais eficiente, estável e ambientalmente sustentável.

O mais surpreendente é que essa conquista partiu de uma linha de pesquisa abandonada pelos Estados Unidos décadas atrás. Enquanto os norte-americanos interromperam os estudos por questões políticas e econômicas, a China decidiu investir pesado na continuidade do projeto.

Os cientistas chineses retomaram a pesquisa em reatores de sal fundido com base de tório, aprimoraram a tecnologia e chegaram a um marco histórico: conseguir reabastecer o combustível do reator enquanto ele ainda estava em funcionamento. Isso elimina uma das principais limitações da energia nuclear tradicional.

Tradicionalmente, usinas nucleares precisam ser desligadas para reabastecimento, o que não apenas interrompe a produção de energia como também eleva os custos operacionais e aumenta os riscos de falhas. Com a nova tecnologia, o processo pode se tornar contínuo e mais seguro.

O reator experimental está localizado em Wuwei, na província de Gansu, uma área desértica ideal para testes de tecnologias energéticas de grande escala. O modelo é pequeno e ainda não conectado à rede nacional, mas os resultados animam pesquisadores e autoridades do país.

A iniciativa faz parte do plano da China de se tornar neutra em carbono até 2060. Para isso, o país vem diversificando sua matriz energética e acelerando projetos que unem inovação e sustentabilidade. O tório surge como peça central dessa estratégia.

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Diferente do urânio, o tório é três vezes mais abundante na crosta terrestre e não gera plutônio, um subproduto que pode ser usado para fins bélicos. Isso torna os reatores de tório menos vulneráveis a proliferação nuclear e acidentes graves como os de Chernobyl ou Fukushima.

Além disso, o tório gera resíduos nucleares com meia-vida mais curta, facilitando o descarte seguro e reduzindo o impacto ambiental a longo prazo. É uma alternativa que atrai cada vez mais interesse global.

Segundo os pesquisadores, o próximo passo é testar a durabilidade do sistema em operações prolongadas. A equipe pretende manter o reator em atividade por vários meses seguidos, monitorando temperatura, estabilidade e eficiência energética.

O sucesso da operação é visto como um divisor de águas para o setor. “Pela primeira vez, temos uma prova de conceito funcional de que reatores de tório com sal fundido podem operar de maneira contínua e segura”, disse o chefe do projeto, Chen Kun, em entrevista à imprensa chinesa.

Ele também destacou o caráter inovador do projeto. “Enquanto outros países desistiram, nós acreditamos no potencial dessa tecnologia. E hoje estamos colhendo os frutos de uma decisão ousada.”

A China não esconde seus planos de liderar o mercado global de energia limpa. O investimento em tecnologia nuclear faz parte de um pacote mais amplo que inclui hidrogênio verde, energia solar, eólica e captura de carbono.

Em termos de infraestrutura, o país está construindo dezenas de novos reatores nucleares até 2035, muitos deles já com possibilidade de adaptação à tecnologia de tório. A meta é reduzir drasticamente a dependência de carvão, ainda predominante no país.

Analistas internacionais afirmam que, com esse avanço, a China se distancia ainda mais de concorrentes ocidentais no setor de energia avançada. O domínio do ciclo do tório pode render vantagens tecnológicas e econômicas nos próximos anos.

Especialistas apontam que, caso os testes continuem bem-sucedidos, a nova geração de reatores pode ser exportada para países em desenvolvimento, oferecendo uma opção de energia limpa e acessível para regiões que hoje dependem de combustíveis fósseis.

Além disso, o novo modelo pode interessar até mesmo a países desenvolvidos que buscam alternativas ao gás natural russo ou à energia nuclear tradicional, que enfrenta resistência pública e entraves regulatórios.

A retomada de pesquisas abandonadas também levanta questionamentos sobre a estratégia científica dos EUA e de outras potências que deixaram de investir em soluções promissoras por motivos conjunturais.

Nos bastidores, especialistas do setor nuclear norte-americano acompanham com atenção os movimentos da China. Há sinais de que alguns institutos e universidades estão reavaliando seus posicionamentos sobre o tório e o sal fundido.

Embora o Ocidente ainda detenha muitas patentes e conhecimento sobre tecnologia nuclear, a vantagem chinesa atual reside na disposição de inovar e aplicar esses conhecimentos em escala.

Para os defensores da energia limpa, o avanço representa uma esperança realista para substituir progressivamente os combustíveis fósseis e evitar as piores consequências da crise climática.

A União Europeia, Japão e Índia também demonstram interesse em reatores de tório, mas ainda em fases preliminares. A liderança chinesa pode ser um catalisador para acelerar investimentos no setor.

Com a possibilidade de operar sem pausas para reabastecimento, os reatores de tório prometem uma revolução silenciosa e constante – exatamente o que o planeta precisa para garantir um futuro energético sustentável.

Se os testes seguirem bem-sucedidos, a China poderá lançar a primeira geração comercial desses reatores antes de 2030, mudando de vez a geopolítica da energia nuclear.

Esse avanço mostra como a ciência, mesmo quando abandonada, pode florescer em solo fértil – desde que haja visão de longo prazo e vontade política.

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