Empresário é acusado de arquitetar manobras estratégicas, com reuniões e votações em horários atípicos, para enfraquecer a Eagle e assumir o domínio da Sociedade Anônima do Futebol alvinegra.
A recente crise envolvendo a SAF do Botafogo ganhou novos contornos com a revelação de supostas tentativas de John Textor para tomar o controle total do clube, por meio de ações descritas como irregulares pela Eagle Football Holdings.
Na noite de uma terça-feira, precisamente às 23h, uma assembleia extraordinária foi convocada por Textor, levantando suspeitas dentro e fora do clube.
O horário incomum da convocação já era, por si só, suficiente para gerar estranheza, mas o que mais chama atenção é o contexto que antecedeu a reunião.
Poucas horas antes, a Eagle teria comunicado oficialmente que limitaria os poderes de Textor dentro da estrutura acionária da empresa responsável pela SAF do Botafogo.
De acordo com fontes ligadas ao clube e à gestão empresarial da SAF, John Textor teria interpretado o comunicado como um alerta vermelho.
A resposta veio de forma imediata: e-mails começaram a circular entre os sócios da SAF, convocando reuniões emergenciais e tomando decisões unilaterais.
As mensagens revelam uma tentativa de alterar a estrutura de governança da SAF de maneira acelerada, o que inclui a mudança de cláusulas contratuais.
Os documentos mostram que Textor buscava diluir a participação da Eagle dentro do controle acionário, favorecendo sua permanência no comando do clube.
A Eagle, responsável por parte significativa do investimento inicial na SAF do Botafogo, reagiu com firmeza às movimentações.
Em nota oficial, a empresa classificou as ações como “manobras apressadas, com o intuito de consolidar um controle não autorizado.”
O caso passou a envolver especialistas jurídicos e entidades esportivas, colocando o futuro da SAF em debate mais amplo no futebol brasileiro.
A estrutura de SAFs permite maior profissionalização e entrada de capital privado, mas também requer regras rígidas de governança.
John Textor, conhecido por seu envolvimento em outros clubes ao redor do mundo, vinha demonstrando crescente insatisfação com a Eagle nos últimos meses.
O empresário alegava entraves operacionais causados pela Eagle, que limitariam sua capacidade de tomar decisões estratégicas no Botafogo.
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Contudo, para a Eagle, os limites eram uma forma de garantir o respeito aos acordos de governança firmados quando da constituição da SAF.
A tensão entre Textor e a Eagle já vinha se acumulando desde o início de 2024, quando divergências sobre investimentos e contratações ficaram públicas.
A crise explodiu quando os e-mails trocados por Textor com os demais sócios revelaram sua intenção de reformular a composição do conselho diretor.
Na prática, essa movimentação teria o efeito de esvaziar o poder da Eagle e centralizar decisões nas mãos de Textor.
A assembleia marcada para as 23h foi convocada com base em argumentos de “urgência estratégica”, segundo os registros de e-mail.
O teor das deliberações da reunião ainda está sob análise de advogados e representantes da SAF, mas indicam alterações contratuais substanciais.
Uma das mudanças envolveria a revisão do quórum necessário para decisões do conselho, facilitando a aprovação de medidas propostas por Textor.
Além disso, o estatuto da SAF teria sido reescrito para abrir espaço para novos investidores indicados por Textor.
A Eagle contesta legalmente a validade dessa assembleia, alegando que não foi notificada com o devido prazo e que a reunião fere cláusulas do estatuto social.
As consequências da disputa já impactam a imagem institucional do Botafogo e geram incertezas entre torcedores e patrocinadores.
Especialistas apontam que esse tipo de conflito pode afastar futuros investidores do modelo de SAF no Brasil.
A questão central gira em torno do controle de votos dentro do capital da SAF, cuja composição ficou fragilizada com a ausência de salvaguardas.
Fontes próximas à diretoria do clube afirmam que o clima interno se tornou “irrespirável” desde o episódio da assembleia.
Enquanto isso, o elenco profissional e o departamento de futebol buscam blindagem para não sofrer impactos diretos da crise no topo da gestão.
A SAF do Botafogo tornou-se uma referência no debate sobre governança e investimento no futebol nacional desde sua criação.
Por isso, o impasse entre Textor e Eagle transcende os muros de General Severiano, com reflexos em todo o ecossistema esportivo.
O próprio John Textor, em declarações à imprensa, defendeu a legitimidade de suas ações, argumentando que age pelo “bem do projeto esportivo”.
Ele também afirmou que as limitações impostas pela Eagle colocariam em risco o desenvolvimento competitivo do clube.
Contudo, a falta de consenso sobre os caminhos da SAF evidenciam um grave problema de alinhamento entre os sócios majoritários.
Entidades como a CBF e o Ministério do Esporte acompanham o caso de perto, considerando os riscos ao modelo de SAF no país.
A crise levanta o alerta sobre a importância de estruturas contratuais sólidas para garantir equilíbrio entre os investidores.
Analistas do mercado esportivo apontam que, caso não haja uma resolução institucional clara, o caso pode virar jurisprudência indesejada para outras SAFs.
A Eagle agora estuda acionar instâncias internacionais de arbitragem para contestar os atos de Textor.
Enquanto isso, conselheiros independentes da SAF do Botafogo estão sendo pressionados a se posicionar sobre a legalidade das decisões da assembleia noturna.
O caso reacende discussões sobre transparência na gestão esportiva e o papel dos investidores estrangeiros no futebol nacional.
A torcida, por sua vez, demonstra preocupação com o futuro do clube e cobra soluções que priorizem o rendimento esportivo e o respeito à história do Botafogo.
Em paralelo, parlamentares sugerem a criação de uma comissão especial para revisar a lei das SAFs, diante do vácuo regulatório que permitiu a escalada do conflito.
O mercado financeiro, atento à disputa, já especula sobre o possível recuo de fundos de investimento em clubes brasileiros.
O episódio revela como o poder, quando mal equilibrado, pode minar projetos de longo prazo mesmo diante de bons resultados em campo.
O resultado final ainda é incerto, mas uma coisa é clara: a disputa pelo controle da SAF do Botafogo se tornou um dos casos mais emblemáticos da nova era de gestão do futebol brasileiro.
A manobra de Textor, vista por muitos como tentativa de golpe, pode resultar em sua retirada definitiva do projeto.
Outros clubes que seguem o modelo SAF estão atentos aos desdobramentos para ajustar suas próprias estruturas de proteção societária.
Advogados especializados defendem que qualquer tentativa de alterar contratos sociais deve respeitar ritos formais e ser previamente aprovada por todos os sócios.
Neste momento, a Eagle tenta reverter os efeitos da assembleia judicialmente e impedir novas ações unilaterais por parte de Textor.