Nova norma da CVM permite que fundos negociem suas próprias cotas na Bolsa, favorecendo a valorização de ativos e oferecendo mais flexibilidade aos gestores
A Comissão de Valores Mobiliários (CVM) anunciou uma importante medida para o mercado de fundos brasileiros: a autorização para que Fundos de Investimento Imobiliário (FIIs) e Fundos de Investimento nas Cadeias Agroindustriais (Fiagros) realizem a recompra de suas próprias cotas no mercado secundário.
A decisão foi tomada por unanimidade pelo colegiado da CVM na última terça-feira (20) e representa uma significativa evolução regulatória. A prática, comum entre empresas listadas na Bolsa, agora poderá ser adotada também por fundos.
A recompra de cotas permite que o próprio fundo adquira ativos que estão sendo negociados com deságio em relação ao valor patrimonial, o que pode beneficiar os cotistas remanescentes por meio de um aumento na rentabilidade por cota.
Essa medida ainda dependerá de regulamentação específica, que deve ser publicada pela autarquia nos próximos 30 dias. O mercado acompanha com atenção os detalhes dessa nova regra.
A proposta visa aumentar a eficiência de mercado e dar mais autonomia aos gestores de fundos, especialmente em um momento de grande desvalorização das cotas de diversos FIIs e Fiagros.
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A expectativa é que a recompra possa funcionar como um mecanismo de correção de preço, elevando a cotação das cotas negociadas com desconto em relação ao valor patrimonial.
Diversos analistas e gestores destacaram que essa decisão pode ajudar na redução da assimetria de preços entre valor de mercado e valor patrimonial dos fundos.

Atualmente, é comum que cotas de FIIs sejam negociadas com deságio de até 20% ou mais, o que impacta negativamente a percepção do investidor e a captação de novos recursos.
Com a possibilidade de recompra, os fundos poderão enxugar o número de cotas em circulação, o que tende a impulsionar o preço e a performance geral do fundo.
Na prática, isso significa que fundos com caixa disponível poderão recomprar cotas baratas no mercado e, com isso, beneficiar os cotistas restantes.
A recompra também sinaliza confiança do gestor na tese do fundo e pode ser bem recebida pelo mercado como uma estratégia de valorização de longo prazo.
Contudo, especialistas alertam que a nova prerrogativa deve ser usada com responsabilidade e dentro de critérios bem definidos na política do fundo.
Será necessário informar aos cotistas sobre a estratégia de recompra e incluir cláusulas específicas no regulamento do fundo, com regras claras e objetivos da operação.
A medida também abre espaço para uma nova dinâmica de mercado, onde os fundos se tornam mais ativos na gestão de seu próprio valor de mercado.
Isso se aproxima da lógica de empresas que utilizam recompra de ações como forma de aumentar o valor por ação e distribuir retorno indireto ao investidor.
Para o investidor pessoa física, a decisão é vista como positiva, pois pode levar à valorização de cotas, além de reduzir a volatilidade dos preços.
Os Fiagros, ainda em estágio mais inicial de popularização, também devem se beneficiar dessa medida, atraindo mais investidores e ampliando a liquidez do mercado.
A possibilidade de recomprar cotas poderá ser especialmente útil em momentos de baixa no mercado, funcionando como uma ferramenta de defesa.
Analistas apontam que a recompra pode ainda melhorar a gestão do portfólio, já que parte do caixa ocioso dos fundos poderá ser usado de forma estratégica.
A mudança regulatória foi recebida com entusiasmo por casas de análise e plataformas de investimentos, que destacaram o amadurecimento do setor de fundos.
Gestores afirmam que, com essa nova possibilidade, será possível responder de maneira mais eficiente às flutuações do mercado e ao comportamento dos investidores.
Entretanto, também será necessário um acompanhamento rigoroso por parte da CVM e dos administradores fiduciários, para evitar abusos ou práticas que possam prejudicar os cotistas.
A decisão reforça o papel da CVM como agente facilitador da modernização do mercado de capitais, promovendo medidas que aumentam a atratividade e competitividade dos ativos nacionais.
Os detalhes da regulamentação que será publicada nos próximos dias serão cruciais para determinar como será o funcionamento prático da recompra de cotas.
Espera-se que a norma traga parâmetros claros sobre limites, prazos, critérios de divulgação e prestação de contas aos cotistas.
Enquanto isso, o mercado segue reagindo de forma positiva à novidade, com investidores monitorando quais fundos poderão ser os primeiros a implementar essa estratégia.
A valorização potencial das cotas pode gerar efeito cascata em outros fundos e impulsionar o interesse por esse tipo de investimento, que vem se consolidando como alternativa de renda passiva.
Em suma, a autorização da CVM para a recompra de cotas por FIIs e Fiagros é vista como um divisor de águas para o setor de fundos no Brasil.
A medida coloca os fundos em pé de igualdade com empresas listadas e amplia o leque de ferramentas disponíveis para a gestão ativa dos portfólios.
Com a regulamentação adequada e transparência nas operações, a recompra de cotas tem tudo para se tornar um instrumento valioso na valorização dos fundos e proteção dos investidores.