Do Crescimento Explosivo ao Risco Sistêmico: Por que Scott Bessent Classifica a China como ‘O Caso Mais Desequilibrado da História Moderna’
A China, segunda maior economia do mundo, já foi apontada como um exemplo impressionante de crescimento acelerado e modernização em poucas décadas. Entretanto, segundo Scott Bessent, secretário do Tesouro dos EUA, o país agora ostenta um título nada invejável: a “economia mais desequilibrada da história moderna”. Essa declaração ecoou globalmente, levantando questões críticas sobre a sustentabilidade do modelo econômico chinês, seu impacto no mercado internacional e as implicações políticas e comerciais desse diagnóstico.
No centro dessa análise estão fatores como supercapacidade industrial, crise imobiliária, dependência excessiva das exportações e baixa demanda doméstica. Essa combinação, segundo Bessent, não só ameaça o crescimento sustentável da China, como também cria distorções significativas no comércio global.
Neste artigo, vamos examinar as origens desse desequilíbrio, entender o que ele significa na prática, identificar os riscos e impactos para o mundo e explorar os caminhos possíveis para um rebalanço estrutural. O objetivo é fornecer uma análise profunda, de alto valor informativo , atendendo tanto ao leitor interessado em geopolítica quanto ao investidor que busca antecipar tendências.
O Contexto da Declaração de Scott Bessent
Scott Bessent não é apenas mais um analista opinando sobre a economia global. Como secretário do Tesouro dos EUA e figura com histórico em grandes fundos e consultorias internacionais, suas declarações são acompanhadas com atenção por governos, investidores e instituições financeiras.
Em entrevistas à Fox Business, Reuters e Nikkei Asia, Bessent foi enfático: a China está presa em um ciclo vicioso de produção excessiva, consumo interno insuficiente e políticas industriais agressivas que, em vez de resolver problemas domésticos, os exportam para o resto do mundo. Ele aponta que o país está tentando compensar desacelerações internas com vendas externas massivas, pressionando outros mercados e gerando tensões comerciais.
O Que Significa “Economia Desequilibrada”?
Uma economia desequilibrada é aquela em que os pilares de crescimento estão distorcidos ou desproporcionais, criando fragilidade estrutural. No caso chinês, esse desequilíbrio pode ser identificado por alguns pontos centrais:
- Supercapacidade industrial: fábricas produzindo muito mais do que a demanda interna ou externa consegue absorver.
- Dependência das exportações: crescimento baseado na venda para outros países, em vez de fortalecimento do consumo doméstico.
- Crise imobiliária persistente: setor que já representou até 20% do PIB agora sofre com excesso de oferta e queda nos preços.
- Demanda doméstica enfraquecida: a renda disponível e o poder de compra das famílias não acompanham o ritmo de produção e investimento.
- Endividamento: tanto em empresas quanto em governos locais, comprometendo a flexibilidade fiscal.
Fatores que Alimentam o Desequilíbrio Chinês
Crescimento Rápido, Fundamentos Frágeis
A trajetória da China desde a abertura econômica nas décadas de 1970 e 1980 foi marcada por industrialização acelerada, urbanização em massa e investimentos maciços em infraestrutura. Entretanto, esse crescimento foi muito mais quantitativo do que qualitativo, e agora o país enfrenta:
- Estagnação da produtividade.
- Envelhecimento populacional acelerado.
- Redução do ritmo de urbanização.
Supercapacidade Industrial
Um dos elementos mais citados por Bessent é a produção em excesso em setores estratégicos:
- Energia solar: capacidade produtiva muito acima da demanda global.
- Veículos elétricos (EVs): fabricantes produzindo mais do que o mercado doméstico consegue absorver.
- Aço, cimento e infraestrutura ferroviária: excesso de obras e materiais que não encontram uso imediato.
O resultado é um efeito deflacionário e um aumento da pressão por dumping em mercados estrangeiros.
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Crise Imobiliária
O setor imobiliário chinês, antes responsável por impulsionar boa parte do crescimento, vive um cenário de:
- Queda nas vendas e nos preços.
- Estoque elevado de imóveis vazios.
- Confiabilidade abalada de incorporadoras, como o caso Evergrande.
- Menor demanda devido à queda na formação de famílias.
Esse quadro não só afeta construtoras, mas toda a cadeia produtiva ligada ao setor, desde cimento até eletrodomésticos.
Dependência das Exportações
Com o consumo doméstico fraco, a China tenta sustentar seu crescimento aumentando as exportações, mas essa estratégia tem limitações:
- Aumento das tensões comerciais com EUA, União Europeia e outros parceiros.
- Risco de tarifas retaliatórias.
- Perda de reputação em mercados que se sentem prejudicados por práticas desleais.
Baixo Consumo Interno
Apesar de ser a segunda maior economia do mundo, a taxa de consumo das famílias em relação ao PIB na China é muito inferior à média global. Fatores que contribuem para isso:

- Falta de políticas de segurança social robustas.
- Alta poupança preventiva por medo de instabilidade econômica.
- Crescimento de salários que não acompanha o custo de vida nas cidades.
Impactos Desse Desequilíbrio no Mundo
O modelo chinês não afeta apenas a própria China, mas também:
- Economias exportadoras de commodities: Brasil, Austrália e países africanos sofrem quando a demanda chinesa oscila.
- Indústrias ocidentais: enfrentam concorrência de produtos chineses com preços artificialmente baixos.
- Mercado financeiro: volatilidade nas bolsas devido a indicadores negativos vindos da China.
- Geopolítica: países pressionados por excesso de importações buscam alianças estratégicas para contrabalançar a influência chinesa.
Caminhos para um Possível Rebalanço Econômico
Fomentar o Consumo Interno
Reformas para aumentar a confiança e o poder de compra das famílias:
- Melhorar a rede de seguridade social.
- Reduzir impostos sobre consumo.
- Incentivar salários mais altos.
Reduzir Subsídios Excessivos
Eliminar subsídios que incentivam produção acima da demanda real, especialmente em setores industriais saturados.
Reformas Estruturais
Abrir mais setores para o investimento privado e estrangeiro, reduzir o controle estatal excessivo e permitir maior competição interna.
Cooperação Internacional
Negociar acordos que permitam trocas comerciais equilibradas, reduzindo práticas de dumping e barreiras artificiais.
Oportunidade de um “Grande Acordo”
Bessent sugere que, apesar do cenário crítico, há espaço para uma reconfiguração vantajosa:
- EUA e aliados poderiam fortalecer sua produção industrial doméstica.
- A China poderia avançar para uma economia mais orientada ao consumidor interno.
- Ambos poderiam evitar uma escalada de conflitos comerciais, mantendo o comércio global mais estável.
A China enfrenta um dilema: ou reformula seu modelo econômico, ou corre o risco de um período prolongado de estagnação e instabilidade. A declaração de Scott Bessent serve como alerta global — não apenas para investidores, mas para governos e empresas que dependem direta ou indiretamente do mercado chinês.
A economia mundial está interligada, e um desequilíbrio dessa magnitude não fica contido dentro das fronteiras de um país. O futuro dependerá da capacidade da China de enfrentar seus próprios excessos e da habilidade da comunidade internacional de buscar soluções cooperativas, antes que o “título” de economia mais desequilibrada da era moderna se converta em uma crise de proporções históricas.