
As bolsas de valores ao redor do mundo registraram fortes quedas nesta semana, marcando um dos piores momentos para os mercados globais desde 2020. O índice Nasdaq Composite, que concentra empresas de tecnologia dos Estados Unidos, entrou oficialmente em “bear market”, com uma queda acumulada de mais de 20% desde as máximas históricas registradas em dezembro.
O movimento ocorre em meio ao agravamento das tensões comerciais entre China e Estados Unidos, com Pequim intensificando sua ofensiva contra a guerra tarifária imposta pelo ex-presidente Donald Trump, cujos reflexos seguem impactando as políticas econômicas dos dois países.
Mesmo diante de sinais positivos no mercado de trabalho norte-americano, a escalada da guerra comercial voltou a preocupar investidores em todo o mundo. A aversão ao risco cresceu, levando os investidores a abandonarem ativos mais voláteis e buscarem segurança nos títulos do Tesouro dos EUA.
O índice S&P 500, principal referência do mercado acionário dos EUA, caiu 5,97% em um único pregão, registrando seu pior desempenho diário desde a pandemia de 2020. O Nasdaq teve uma retração de 5,82%, selando oficialmente sua entrada em território de bear market.
Na Europa, as principais bolsas também operaram em forte queda. O índice alemão DAX e o francês CAC 40 recuaram mais de 3%, aproximando-se de níveis que caracterizam uma correção — queda superior a 10% em relação aos últimos picos.
A intensificação da disputa tarifária se deu após novas medidas impostas por Pequim sobre produtos norte-americanos, em resposta à manutenção de tarifas herdadas da era Trump. A retaliação chinesa atinge setores estratégicos e preocupa grandes multinacionais.
Enquanto isso, o petróleo tipo Brent caiu para o menor nível em quatro anos, refletindo temores de desaceleração global e menor demanda por energia. O barril recuou para abaixo de US$ 60, atingindo níveis de 2020.
Os rendimentos dos títulos do Tesouro de 10 anos dos EUA recuaram nove pontos-base, para 3,93%, sinalizando um movimento intenso de fuga para ativos considerados mais seguros. A curva de juros sugere agora a expectativa de ao menos quatro cortes nas taxas de juros ainda neste ano.
Os mercados monetários passaram a precificar inclusive uma quinta redução de 0,25 ponto percentual nas taxas, refletindo a crescente preocupação dos investidores com o ritmo da economia global.
Indicadores de crédito, como o índice de spreads de CDS (Credit Default Swaps), saltaram ao maior nível desde o colapso bancário de 2023, indicando maior percepção de risco no sistema financeiro.
Para analistas, a combinação de tensões geopolíticas, instabilidade tarifária e incerteza monetária cria um cenário particularmente desafiador para os mercados em 2025.
Veja também
Segundo economistas do JPMorgan, o atual movimento de baixa pode se prolongar caso não haja um recuo significativo na retórica protecionista entre as duas maiores economias do mundo.
Além disso, empresas exportadoras dos EUA já sentem os efeitos das tarifas. O setor de semicondutores foi um dos mais afetados, com ações da Nvidia, AMD e Intel recuando mais de 6% no pregão mais recente.
Na China, o índice de Xangai também operou em queda, refletindo a cautela de investidores locais diante do impacto de sanções e tarifas sobre a indústria tecnológica do país.
A tensão entre os dois países afeta cadeias produtivas globais, principalmente nos setores de manufatura, tecnologia e energia, levando empresas a reavaliar planos de investimento.
Empresas norte-americanas que dependem fortemente do mercado chinês, como Apple e Tesla, viram suas ações despencarem nesta semana. A Apple, por exemplo, recuou mais de 4% em um único dia.
O Departamento do Tesouro dos EUA afirmou que monitora de perto os desdobramentos da política tarifária e que está em diálogo com o Federal Reserve sobre possíveis impactos na estabilidade financeira.
Por sua vez, o presidente do Federal Reserve, Jerome Powell, evitou comentar diretamente as medidas chinesas, mas reforçou que o banco central está preparado para agir, se necessário, para conter os impactos econômicos.
Especialistas alertam que, se as tarifas continuarem a aumentar, a inflação poderá voltar a subir, dificultando ainda mais o trabalho dos bancos centrais em manter o equilíbrio entre crescimento e controle de preços.
Com a forte desvalorização das ações, investidores institucionais começaram a revisar suas projeções de alocação para o segundo trimestre de 2025, dando prioridade a setores defensivos e ativos de menor risco.
No mercado brasileiro, o Ibovespa também foi impactado, fechando em queda de 2,8%, refletindo a aversão global ao risco e a queda nos preços das commodities, como minério de ferro e petróleo.
Investidores estrangeiros retiraram mais de R$ 5 bilhões da B3 em apenas dois dias, demonstrando o nervosismo generalizado com os rumos da economia global e as incertezas políticas entre China e Estados Unidos.
O dólar disparou frente a moedas emergentes, com o real encerrando o dia cotado a R$ 5,32. A valorização da moeda norte-americana pressiona a inflação brasileira e pode adiar a queda da taxa Selic no país.
Os setores mais penalizados nas bolsas globais foram tecnologia, consumo discricionário, automotivo e energia, todos altamente sensíveis a mudanças na política comercial e à desaceleração econômica.
Por outro lado, empresas de setores considerados mais estáveis, como saúde e utilidades públicas, tiveram desempenho melhor, com algumas ações registrando ganhos mesmo em meio ao colapso do mercado.
O clima nos mercados é de extrema cautela. Muitos gestores preferem manter posição em caixa ou ativos com menor volatilidade, à espera de sinais mais claros sobre os próximos passos da política tarifária internacional.
Além da questão tarifária, o mercado segue atento a possíveis movimentações políticas nos Estados Unidos, onde eleições se aproximam e o tema da relação com a China promete dominar os debates.
A guerra tarifária, que já dura anos, pode ter efeitos duradouros na estrutura do comércio global, forçando empresas a buscar novos mercados, realocar fábricas e diversificar fornecedores.
Para o investidor de longo prazo, o momento pode ser de oportunidades seletivas, mas exige cautela redobrada e diversificação de portfólio para atravessar períodos de maior turbulência nos mercados.
A perspectiva de um novo ciclo de cortes nas taxas de juros pelo Federal Reserve também pode abrir caminho para uma recuperação futura, especialmente em ativos de renda variável mais descontados.
Por enquanto, porém, o cenário permanece volátil, com a combinação entre bear market, tensões geopolíticas e desaceleração econômica formando uma tempestade perfeita nos mercados financeiros.