Luciano Spalletti deixa o comando após derrota humilhante nas Eliminatórias e Itália segue fora da Copa do Mundo desde 2014
A crise do futebol italiano ganhou novos e preocupantes capítulos após a derrota por 3 a 0 diante da Noruega, válida pelas Eliminatórias para a Copa do Mundo de 2026. O revés, considerado vexatório pela imprensa local e torcedores, culminou com o anúncio da saída de Luciano Spalletti do comando técnico da seleção tetracampeã mundial.
Spalletti, que assumiu o cargo após a saída de Roberto Mancini, confirmou que fará seu último jogo nesta segunda-feira (9) contra a Moldávia. A partida, que deveria marcar uma recuperação nas Eliminatórias, se transformou em um “adeus” melancólico e cercado de incertezas.
O treinador, responsável por conduzir o Napoli ao título italiano após 33 anos, chegou à seleção com grande expectativa. Porém, não conseguiu resgatar o prestígio da Azzurra, que não disputa uma Copa do Mundo desde 2014, quando foi eliminada ainda na fase de grupos no Brasil.
Em 2018, a ausência já havia sido um duro golpe para a tradição do futebol italiano. Em 2022, novo fracasso nas Eliminatórias — desta vez diante da Macedônia do Norte. A expectativa de retorno em 2026, portanto, era tratada como obrigação nacional.
A derrota para a Noruega, no entanto, escancarou problemas táticos, físicos e mentais da equipe. Sem criatividade no meio-campo, dependente de veteranos como Jorginho e Verratti e com jovens ainda despreparados, a Itália foi dominada do início ao fim.

O técnico Spalletti reconheceu os erros no planejamento e na execução de suas ideias. “Assumo total responsabilidade. Não conseguimos encaixar uma proposta de jogo eficiente e equilibrada. A Itália precisa de renovação urgente”, declarou em entrevista coletiva.
A Federação Italiana de Futebol (FIGC) ainda não anunciou oficialmente o sucessor de Spalletti. Nomes como Antonio Conte, Carlo Ancelotti e Roberto De Zerbi surgem como favoritos da imprensa esportiva local, mas nada está definido até o momento.
Especialistas apontam que a crise atual da seleção italiana vai muito além do comando técnico. O futebol nacional sofre com problemas estruturais, formação de base deficiente e exportação precoce de jovens talentos para outros centros europeus.
Analistas do Calcio também destacam o envelhecimento do elenco da Azzurra como fator de preocupação. Dos 26 convocados para as últimas partidas, 15 jogadores têm mais de 29 anos — realidade que contrasta com seleções como França, Inglaterra e Brasil.
A imprensa italiana não poupou críticas após o vexame diante da Noruega. O jornal “Gazzetta dello Sport” classificou a derrota como “vergonhosa e inadmissível”, enquanto o “Corriere dello Sport” publicou a manchete “Fim de ciclo: urge revolução no futebol italiano”.
A repercussão internacional também foi intensa. Veículos como “Marca” (Espanha) e “L’Équipe” (França) destacaram o colapso de uma seleção histórica, alertando para o risco de nova ausência na Copa do Mundo, o que seria trágico para a FIFA e patrocinadores.
Economicamente, a não classificação da Itália para um terceiro Mundial consecutivo traria prejuízo bilionário à FIGC, aos clubes locais e às marcas parceiras da seleção. Estima-se que as perdas com patrocínio e direitos de transmissão superem € 600 milhões.
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Para os torcedores italianos, o sentimento é de frustração e desconfiança. A confiança no projeto da seleção despencou nas pesquisas de opinião, e parte da torcida já protesta nas redes sociais pedindo mudanças radicais no comando da FIGC.
Luciano Spalletti, por sua vez, admitiu decepção pessoal. “Quis reconstruir uma seleção vencedora, mas fracassamos. Saio triste, mas espero que quem chegar possa devolver a Itália ao seu devido lugar no futebol mundial”, disse o treinador.
O jogo contra a Moldávia pode se tornar o último suspiro antes de uma renovação profunda. Mesmo com vitória, o estrago já está feito: a Itália caiu para a 4ª colocação no grupo das Eliminatórias e depende de combinação de resultados para manter chances reais de ir ao Mundial.
Nos bastidores, surgem debates sobre mudanças também no comando da FIGC. O presidente Gabriele Gravina é pressionado por conselheiros e ex-jogadores a renunciar ou propor reformas estruturais no futebol italiano.
A falta de craques de renome também preocupa. Diferente de gerações passadas — com nomes como Totti, Del Piero, Pirlo e Buffon —, a Itália atual carece de protagonistas que decidam jogos importantes. Donnarumma, Barella e Chiesa surgem como exceções, mas insuficientes.
Ex-jogadores como Fabio Cannavaro e Alessandro Nesta defenderam mudanças radicais. “O problema é mais profundo. Precisa mudar a cultura do futebol de base no país. Estamos perdendo talentos por má gestão desde as categorias menores”, alertou Cannavaro.
A série de vexames internacionais se soma à crise dos clubes italianos nas competições europeias. Times como Juventus, Milan e Inter de Milão, que antes dominavam a Champions League, têm dificuldade de se impor frente a ingleses, espanhóis e alemães.
A própria liga nacional (Serie A) perdeu força de atração global. Dados de audiência apontam queda de 25% nas transmissões internacionais da competição desde 2018 — reflexo do desempenho fraco da seleção e da falta de grandes astros locais.
O mercado de transferências também revela enfraquecimento. Jovens promissores como Sandro Tonali e Gianluca Scamacca saíram cedo para clubes de outras ligas, sem tempo de maturação na Itália, prejudicando o crescimento técnico da Serie A e da seleção.
Para analistas financeiros, o futebol italiano enfrenta a pior crise desde o escândalo do Calciopoli, em 2006. A combinação de maus resultados, fuga de talentos e gestão ineficaz ameaça a sustentabilidade do modelo atual.
Entretanto, especialistas não descartam uma recuperação rápida — desde que medidas drásticas sejam adotadas. Reformas na base, modernização dos centros de treinamento e mudanças no calendário são apontadas como soluções possíveis.
As apostas nas casas de Londres já precificam o risco de nova ausência da Itália na Copa de 2026. As cotações para não classificação da Azzurra subiram 40% após a derrota para a Noruega — um dado preocupante para investidores e patrocinadores do futebol local.
Apesar da crise, parte da torcida sonha com o retorno de técnicos como Conte ou Ancelotti, nomes vitoriosos e com histórico de recuperar equipes em momentos turbulentos. A decisão final deve sair nas próximas semanas, segundo fontes da FIGC.
Até lá, a incerteza paira sobre o futebol italiano. A seleção que encantou o mundo em 1934, 1938, 1982 e 2006 vive talvez o maior desafio de sua história: provar que ainda pertence à elite do futebol mundial.
O duelo contra a Moldávia encerra oficialmente a “Era Spalletti” e pode ser simbólico para o futuro. Vitória ou derrota, o estrago já foi feito — e a reconstrução exigirá coragem, investimento e paciência dos dirigentes e da torcida italiana.
Em resumo, a seleção tetracampeã mundial dá adeus a mais um ciclo fracassado, acumulando dúvidas sobre o futuro técnico, tático e institucional. O mundo do futebol observa com atenção: o gigante adormecido da Europa precisa urgentemente acordar.